quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O dom de comunicar através das imagens



Eloquência dos Olhos - Enough is Enough (No More Tears)

Nunca foi tão fácil e acessível preservar momentos para a posteridade. A era digital trouxe a massificação das máquinas fotográficas e criou a ideia de que cada um de nós é um pequeno especialista na matéria. Mas Igor Martins não vai em ideias nem em palavras: “sou mais de imagem do que palavras. As palavras às vezes começam a faltar”, por isso, é através das representações da realidade que ele comunica. Este jovem e tímido estudante de fotografia viu um trabalho de curso, “Eloquência dos Olhos”, ser referenciado num prestigiado órgão de comunicação nacional e tem dado nas vistas pela humanidade e sentimento com que fotografa.

Não passa um dia sem que vejamos alguém de câmara em riste, seja por motivos profissionais ou por lazer. Na verdade, a fotografia, “técnica de criação de imagens por exposição luminosa”, preenche-nos os dias, mas nem todos têm aquela capacidade de transformar uma imagem num momento, numa memória, como o Igor tem. Neste trabalho mais conhecido, a “Eloquência dos Olhos”, realizado no âmbito do projecto final do primeiro ano do curso de Fotografia, do Instituto Português de Fotografia, este portuense abandonou a sua zona de conforto, porque "o retrato nunca foi a minha praia. Então pensei: ou vou ser o que fui sempre durante o curso - que era mais virado para os pormenores dos objectos corriqueiros, ou vou fazer diferente. Então, decidi arriscar no retrato e a preto e branco. Pensei que deveria perder o medo à abordagem na rua." A namorada auxiliou-o neste processo de convidar desconhecidos para serem fotografados, permitindo ao Igor focar-se no que sabe fazer de melhor: a captura da essência de um rosto humano. "O facto de teres várias pessoas iguais, no mesmo enquadramento, faz com que olhes sempre para a pessoa de forma comparativa, como se fosse uma caderneta de cromos. Ao comparar, reparas que os olhos são quase todos idênticos, mas as feições mudam. Mas na rua não olhas para estes traços. Se estiveres atento é que vês que há olhares mais tristes ou mais contentes. E eu queria destacar as marcas das pessoas, as cicatrizes das pessoas, que se vê, principalmente, nas mais velhas."

Eloquência dos Olhos - I Am Only Human

Para Igor, a forma ideal de apresentar este trabalho seria “uma exposição na parede, sem ter ali uma linha de leitura.” Algo que não prendesse ou condicionasse a percepção das imagens - o mesmo motivo pelo qual não gosta de atribuir títulos aos trabalhos. No caso da “Eloquência dos Olhos”, os nomes das fotografias surgiram por uma questão prática: “ao publicar no site 500px tive que atribuir nomes, alguns dos quais fazem sentido apenas para mim” e que, como tal, não podem ser interpretados à letra. Seguiu-se um contacto com a equipa do P3, do Público, que mostrou interesse em divulgar este projecto. Sentiu-se “orgulho, claro”, mas mantém os pés na terra quanto à dificuldade na divulgação, pois se não se conseguir “exposições ou mesmo aparecer em páginas de referência”, tudo fica mais difícil. O excesso de informação não ajuda. “As pessoas têm tempo para ver tudo, mas ao mesmo tempo não têm tempo para nada.” E Igor arranja sempre tempo para fazer o que gosta, que é fotografar com a alma, com o coração, com as emoções. “Estar a fotografar uma coisa qualquer que não te diga algo, não faz sentido. Tem que ter sentimento. A maneira mais fácil de fazeres isto é pegar numa câmara analógica que tem limites de imagens, pois aí só vais fotografar quando sentires a imagem, ou quando tens algum objectivo ou uma mensagem para passar.”

Eloquência dos Olhos - Enchantment
 
Gosta de futebol, é adepto do F.C. Porto e acha que o cinzento da Invicta tem outro encanto, “bonito para fotografar”. “Nós somos do Porto, mas não conhecemos o Porto. Às vezes perco-me pela cidade. Mas já a conheço relativamente bem e começo a querer ir para outras paragens, mas nem sempre é possível. Gostava de chegar aos 80 anos e, quando me perguntassem de onde sou, dizer que sou de todo o mundo, porque do Porto vou ser sempre.” Talentos assim, por muito que os queiramos por perto, são para partilhar com o mundo. Conheço o Igor há uns 18 anos e, enquanto miúdos, estaríamos longe de imaginar as voltas que a vida daria – e esta volta da sua vida é tão realista, comovente e notável, que só queremos ver mais.

Eloquência dos Olhos - galeria de imagens.

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