Quem o ouve a
falar não imagina que do outro lado está “apenas” um rapaz no início da maior aventura
da sua vida. Rodrigo Silva tem nas palavras os sonhos de criança, no olhar a
ambição de adolescente e os resultados de gente grande. Criou a marca Mydream
em 2011, dedicada à produção e personalização de vestuário e acessórios, e já
tem três espaços comerciais abertos, empregando 16 funcionários.
Abandonou a licenciatura em Som e Imagem, na
Universidade Católica, quando lhe faltava completar uma única cadeira. “Sair da
faculdade foi o que fiz de melhor na minha formação”, afirma este autodidacta
que aprendeu a desenvolver “uma capacidade extra
de dar bons resultados aos desafios, pois acredito que sozinhos conseguimos uma
aprendizagem mais forte e menos formatada.” Escusado será dizer que a
família não reagiu bem. O estigma de abandonar os estudos, quando faltava tão
pouco para concluir, sem nenhum plano alternativo, pode ser difícil de
compreender. Mas para Rodrigo foi o momento de viragem na vida pessoal e o
início de uma carreira que já não é só promissora, mas uma realidade
bem-sucedida. Foi nessa altura que o grafiti, que já fazia parte da sua vida
desde os 14 anos, ganhou mais importância, pois começou a trazer a Rodrigo algum
retorno financeiro. Não se inspira em nada em particular, mas ao mesmo tempo
procura o conhecimento em tudo o que o rodeia. Por isso, os desenhos saem às
golfadas, como se Rodrigo não os conseguisse conter. Diz que este processo é
tão “natural” que é por isso que não tem nenhum estilo próprio. Depois das
paredes, começou a pintar também em sapatilhas, telemóveis e roupa – daí a
criar a Mydream foi um instante. Ficou conhecido como “Rodrigo, o puto pinta
sapatilhas.”
“Comecei do nada. Aliás ainda não tenho nada. Sou
uma pessoa que luta, tenho espírito de entrega e tenho a felicidade de ter
muita gente a ajudar-me. As pessoas gostam do projecto e querem-me apoiar.”
Hoje, possui duas lojas em Matosinhos e no Dolce Vita Porto e um stand no Norteshopping.
O aspecto visual dos espaços tem tanto impacto que só apetece entrar e ver tudo
ao pormenor. O balcão de atendimento é um comboio, os expositores estão dentro
de pequenas casas, as cruzetas penduradas em tubos de água. Uma ligação
inquestionável ao tempo em que tudo começou: o grafiti e o background urbano. “O
povo português é um pouco desatento em relação a conceitos de lojas, de
arquitectura, de design, porque se preocupam mais com os medos. E a Mydream
também pretende iluminar pessoas e a sua visualização das coisas, mostrando que
também é possível ter coisas bonitas e dar-lhes valor”, defende.
O Rodrigo não fala de negócios, de vendas, de
projecções, e acredita que é possível avançar com um projecto sem dinheiro – “é
preciso é estar no terreno, falar com as pessoas, acreditar. As pessoas têm que
sentir a tua paixão e, naturalmente, vais vencendo.” Por isso, este
empreendedor prefere destacar a vertente espiritual que idealiza em todas as etapas
da sua mais que atarefada vida. Não tem horários para comer, para dormir, para
começar ou parar de trabalhar. Por ele passam todas as etapas do processo de
produção das peças que vende. Deita-se e acorda feliz pelo que alcançou e por
tudo o que o futuro lhe trará. Tenta rodear-se de uma equipa que compreenda e
represente a filosofia do projecto: ““Mydream é fé, é paixão, é amor, é
entrega. O meu sonho não é ser o mais rico, mas ser o mais rico espiritualmente
e contagiar outras pessoas.” E é difícil fazer-se compreender? “Para mim é
fácil passar esta mensagem, porque isto é muito natural em mim. Compreendo as
pessoas, os seus medos e até mesmo o seu negativismo para comigo e, muitas
vezes, injustamente. Mas, para mim, é tudo natural. É o meu objectivo, é a
minha missão, é o meu sonho. Se calhar nos dias que correm não é assim tão
fácil. Ou, se calhar, é, porque nos dias que correm as pessoas estão mais
carentes.”
“O meu maior ídolo é o meu pai, por tudo o que já
passou e pelo que tem hoje.” A título profissional, admira empresários que se
destaquem pelas capacidades empreendedoras, mas também pela humildade e pela forma
como contagiam os demais, como “Amancio Ortega. Ele diz uma frase que eu
adoptei: se hoje eu tenho muito dinheiro
é porque o meu objectivo nunca foi ganhar dinheiro.” Aos poucos, o Rodrigo
também vai contagiando e não se deixa abater por nenhum obstáculo. Quando
contrata um funcionário pergunta-lhe se está preparado para ser o melhor, pois
quer rodear-se de pessoas conscientes da realidade, mas com a fasquia alta e
que não desistam de lutar. Esta filosofia optimista e inspiradora fazem dele um
empresário com visão e com coração, coisa invulgar nos dias de hoje.
Engane-se quem pensa que a Mydream é um sonho
concretizado, porque esse “está sempre a mudar. Mas estou realizado, sempre com
a porta da ambição aberta.” No futuro quer fazer evoluir a marca, aumentando a
variedade de peças de vestuário e criando mais postos de trabalho e não tem
dúvidas: “a Mydream vai ser uma das maiores referências mundiais e digo isto,
não de forma arrogante, mas com a mentalidade de que tenho que trabalhar para
isso, com humildade e, acima de tudo com a vontade de iluminar pessoas.”
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